Cosmetologia Genética Por: Celio Takashi Higuchi

Atualmente sabe-se que a velocidade do envelhecimento de um organismo depende da interação entre o genoma e os fatores estocásticos. Estes fatores trabalham com a hipótese de que o envelhecimento dependeria do acúmulo de agressões ambientais que atingem um nível incompatível com a manutenção das funções orgânicas e da vida. Quanto ao genoma há várias teorias genéticas que sugerem o processo de envelhecimento. Na tabela a seguir possuímos alguns exemplos:

Teoria genética Processo de envelhecimento Referência
Velocidade da Vida O consumo de energia representa uma limitação na longevidade, pois a geração de espécies reativas de oxigênio formados, principalmente, durante a respiração celular está envolvida na senescência celular Teixeira & Guariento, 2010
Multiplicação Celular Testes com fibroblastos humanos in vitro demonstram que estas capacidades vão diminuindo até a sua inativação, porém, esta teoria, tem perdido espaço no âmbito científico porque é vista como uma etapa do envelhecimento e não determina o mecanismo desta diminuição na capacidade de multiplicação celular Guirro & Guirro, 2002
Relações Cruzadas de Macromoléculas O entrelaçamento é o primeiro acontecimento molecular que conduz a maioria das alterações para o início do processo de envelhecimento celular Gava & Zanoni, 2005
Mutagênese Intrínseca A acumulação de mutações nas células somáticas impossibilita a manutenção da fidelidade e replicação do material genético, a célula começa a evidenciar um fenótipo de envelhecimento, de perda e de funcionalidade Mota et al., 2004
Radicais Livres Oxidações químicas e enzimáticas envolvendo a formação de radicais livres aceleram esse fenômeno de envelhecimento Hirata et al., 2004; Zanella et al., 2007
Neuroendócrina A incapacidade fisiológica do organismo associada à idade pode ser explicada com base na alteração hormonal resultante da modificação da expressão genética Teixeira, 2006
Encurtamento dos Telômeros A duplicação cromossômica normal produz um progressivo encurtamento dos telômeros, até que, depois de um número de divisões celulares, os cromossomos se tornam instáveis e a célula morre Gava & Zanoni, 2005

Além da medicina e da indústria farmacêutica, empresas do setor de cosméticos investiram em pesquisas visando à elaboração de produtos que apresentassem ação sobre as estruturas responsáveis por determinar o envelhecimento celular e a apoptose. Por consequência, faria com que a pele se mantivesse jovem por mais tempo, não apenas em sua aparência. Dessa forma, surgiu-se a definição mercadológica chamada de genocosmético, ou seja, ativos que desempenham a ação de inibir os processos fisiológicos moleculares causados pelo envelhecimento intrínseco e extrínseco.

Ao falar em envelhecimento cutâneo é sempre sugerido o uso de ativos que retardem ou minimizem os primeiros sinais. Os peptídeos, células tronco de origem vegetal e fatores de crescimento são excelentes opções de ativos recentes e biotecnológicos que já estão presentes em alguns produtos cosméticos.

 

 

Na última década, os pesquisadores têm focado na fisiopatologia do fotoenvelhecimento e encontraram correlações com alguns aspectos da cicatrização de feridas agudas e crônicas. Os efeitos dos fatores de crescimento no processo de cicatrização de feridas são de interesse específico para os fabricantes de cosmecêuticos. Com o envelhecimento, os fatores de crescimento diminuem e o resultado é uma resposta celular bem mais lenta do que a promovida pela pele jovem.

Os fatores de crescimento são proteínas (citocinas) produzidas por células dos tecidos. Para Hilling (2010), os fatores de crescimento agem como mensageiros químicos entre as células. São responsáveis por ativar e desativar diversas atividades celulares; promover o aumento da taxa de crescimento das células no organismo; contribuir com a divisão celular, com o crescimento de novas células e vasos sanguíneos, com a produção e a distribuição de colágeno e elastina.

Os peptídeos são fragmentos de fatores de crescimento. Sabe-se que tal sequenciamento de aminoácidos confere funções específicas. Eles são capazes de interagir com receptores na superfície das células da pele, emitindo um sinal que atravessa a membrana celular e efetua um comando que estimula a resposta biológica, promovendo um resultado mais rápido e significativo.

Os fatores de crescimento e seus peptídeos são obtidos por Biotecnologia pela técnica de produção de proteínas recombinantes. Estes fatores são nanoencapsulados a fim de viabilizar a permeação cutânea e proteção contra proteases endógenas.

A seguir veremos uma tabela com exemplos de citocina, mecanismo de ação e dosagem:

CITOCINA MECANISMO DE AÇÃO DOSAGEM
NANOFACTOR EGF (Fator de Crescimento Epidermal) Ação reepitelizante, estimula a diferenciação de queratinócitos. Proporciona a substituição do tecido lesionado ou necrosado e acelera a formação de tecido de granulação saudável. Regula a pigmentação da pele em decorrência de processo inflamatório. 0,5 – 1,0% (em associação) 3% (uso isolado)
NANOFACTOR bFGF (Fator de Crescimento Fibroblástico Básico) Importante sinalizador para fibroblasto na síntese de matriz extra celular de boa qualidade. Preventivo de queloides e cicatrizes hipertróficas. 0,5 – 1,0% (em associação) 3% (uso isolado)
NANOFACTOR TGF3 (Fator de Crescimento Transformador) Atua em sinergismo com o Fator de Crescimento Fibroblástico Básico no estímulo da produção de matriz extra celular de qualidade. Previne fibrose. 0,5 – 1,0% (em associação) 3% (uso isolado)
NANOFACTOR IGF (Fator de Crescimento Insulínico) Potente citocina cicatrizante, acelera a remodelação do tecido na formação de tecido de granulação saudável. Especialmente indicada para ferimentos com desordens vasculares ou influenciados por diabetes. 0,5 – 1,0% (em associação) 3% (uso isolado)
NANOFACTOR aFGF (Fator de Crescimento Fibroblástico Ácido) Citocina que estimula a formação de novos vasos sanguíneos, indicado para ferimentos decorrente a fragilidade vascular (úlcera varicosa), queimaduras e diabetes (pé diabético). 0,5 – 1,0% (em associação) 3% (uso isolado)
IDP-2 PEPTÍDEO (Decapeptídeo 4) Fração ativa e concentrada do Fator de Crescimento Insulínico (Peptídeo Bioidêntico). Apresenta os efeitos da citocina mãe de forma potencializada. Especialmente indicado para ferimentos de grandes proporções e queimaduras profundas. 0,5 – 1,0% (em associação) 3% (uso isolado)

 

 

 

A utilização de células-tronco embrionárias para investigação científica e tratamentos médicos varia de país para país, sendo que em alguns deles sua investigação e sua utilização são permitidas, enquanto em outros é ilegal. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal liberou a utilização de células-tronco embrionárias em pesquisas científicas, como está previsto na Lei de Biossegurança, aprovada pelo Congresso Nacional em 2005. As propriedades de renovação e regeneração das células-tronco humanas também estão presentes nas células-tronco vegetais, que estão sendo utilizadas pela indústria cosmética na formulação de produtos antienvelhecimento. As células-tronco contêm potentes substâncias essenciais para a vida, como proteínas, lipídios, glucídios e minerais que podem ajudar a proteger as células-tronco nos seres humanos e todas as células da pele. Na área cosmética, estudos foram realizados com células-tronco vegetais originárias da maçã Uttwiler spätlauber. Estes estudos mostraram uma melhora significativa na qualidade da pele, melhora do turn over celular e redução de rugas aparentes. O ativo também apresentou uma atividade protetora frente às agressões da radiação UV nas células da epiderme. Em cultura de fibroblastos também revelaram um potencial aumento no número de fibroblastos na derme. Ensaios in vitro nem sempre correspondem os in vivo, sobretudo quando se tratam de estudos investigativos que diz respeito à permeação cutânea.

 

 

Extrato Ação Referência
Lycopersicon esculentum Neutralizar o efeito de metais pesados sobre a degradação de colágeno em culturas de células cutâneas Tito et al, 2011
Malus domesticus Expressão gênica das células cutâneas induzindo a síntese de Ciclinas B1 e E1 resultando na melhora dos sinais do envelhecimento Schmid et al, 2008
Coffea bengalensis Expressão gênica das células cutâneas induzindo a síntese de Ciclinas COL I e COL III resultando na síntese de colágeno Bimonte et al, 2011

 

 

  1. BARBULOVA, A.; APONE, F.; COLUCCI, G. Plant Cell Cultures as Source of Cosmetic Active Ingredients. Cosmetics, v. 1, p. 94-104. 2014.
  2. BIMONTE, M.; TITO, A.; CAROLA, A.; BARBULOVA, A.; MONOLI, I.; CUCCHIARA, M.; HILL, J.; COLUCCI, G.; APONE, F. Coffea bengalensis for anti-wrinkle and skin toning applications. Toilet. v. 126, p. 644–650. 2011.
  3. COSTA, A. Tratado Internacional de Cosmecêuticos. Guanarabara Koogan, 2012.
  4. FRANQUILINO, E. Cosméticos e células-tronco. Cosmetics & Toiletries, v. 25, p. 17-21, Nov/Dez. 2013.
  5. GAVA, A.A.; ZANONI, J.N. Envelhecimento celular. Ciênc. Saúde Unipar, Umuarama, 9(1), jan./abr. p. 41-46, 2005.
  6. GUIRRO, E.; GUIRRO, R. Fisioterapia Dermato-Funcional: Fundamentos, recursos, patologias. Barueri: Manole, 2004.
  7. HIGUCHI, C. T.; ANDRADE, D. M. S. Análises crítica e comparativa de uma marca cosmética com apelo antienvelhecimento. Interfac EHS, v. 9, p. 43-63, 2014.
  8. HILLING, C. HGFs como cicatrizantes naturais. Cosmetics & Toiletries, v.22, n.5, p. 44-47, Set/Out. 2010.
  9. HIRATA, L.L.; SATO, M. E. O., SANTOS, C. I. M. Radicais Livres e o Envelhecimento Cutâneo. Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas, Departamento de Farmácia, Setor de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Paraná, Brasil. 2004
  10. KIM, W.; PARK, B.; PARK, S.; KIM, H.; SUNG, J. Antiwrinkle effect of adipose-derived stem cell: Activation of dermal fibroblast by secretory factors. Journal of Dermatological Science, v. 53, p.96–102, 2009.
  11. LUCA, C.; PIRES, M. C. C. L.; CORAZZA, S.; HIGUCHI, C. T. A atuação da cosmetologia genética sobre os tratamentos antienvelhecimento. InterfacEHS, v. 8, p. 63-91, 2013.
  12. MOTA, M.P.; FIGUEIREDO, P.A.; DUARTE, J.A. Teorias biológicas do envelhecimento. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, vol. 4, n. 1, p.81–110, 2004.
  13. SCHMID, D.; SCHURCH, C.; BLUM, P.; BELSER, E.; ZULLI, F. Plant stem cell extract for longevity of skin and hair. SOFW J. v. 5, p. 30–35, 2008.
  14. TEIXEIRA, P. Envelhecendo passo a passo. Departamento de Psicologia da Universidade Lusíada do Porto, Portugal, 2006.
  15. TEIXEIRA, I. N. O., GUARIENTO, M. E. Biologia do envelhecimento: teorias, mecanismos e perspectivas. Ciênc. saúde coletiva. vol.15 n.6 Rio de Janeiro, 2010.
  16. TITO, A.; CAROLA, A.; BIMONTE, M. et al. A tomato stem cell extract, containing antioxidante compounds and metal chelating factors, protects skin cells from heavy metal-induced damages. Int J Cosmet Sci, Maio, 24, 2011.
  17. VANZIN, S.B. Entendendo cosmecêuticos: diagnósticos e tratamentos. 2 ed. Santos, 2011, 398p.
  18. ZANELLA, A. M., SOUZA, D. R. S., GODOY, M. F. Influência do exercício físico no perfil lipídico e estresse oxidativo. Artigo de revisão Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – FAMERP, 2007.

Confira este e outros artigos no livro Ativos Dermatológicos – Dermocosméticos e Nutracêuticos – 9 Volumes.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *